quarta-feira, 25 de abril de 2012

REFLEXÕES EM UMA CALÇADA



Em um dia comum, pela manhã, caminhando em direção ao trabalho, me deparei com uma cena muito comum em nossa cidade, digo isso com tristeza. Em meio a pessoas ansiosas, atrasadas, irritadas, tranquilas e também sonolentas que aguardavam a chegada do ônibus, um menino dormia, alheio a todo e qualquer movimento.
Como não perceber, em sua cabeça raspada, tantas cicatrizes? Tentava disfarçar, olhava para outras direções, mas meus olhos procuravam aquelas cicatrizes. Lá estava ele: posição fetal, sem travesseiro, sem lençol, sem nada... Seu sono parecia inabalável, indiferente aos ruídos, buzinas e conversas ao redor.
Interiormente, listei algumas perguntas: Quantos anos tem esse menino? Será que algum dia morou com a família? O que causou tantas cicatrizes em seu corpo? Que histórias esse menino e essas cicatrizes me contariam? Essas perguntas ecoavam forte dentro de mim causando um turbilhão de sentimentos. Eu olhava tão fixamente para ele, que quando se mexeu receei tê-lo acordado com meus pensamentos.
Finalmente entrei no ônibus, mas meus pensamentos ficaram lá. A cena continuou viva em minha mente, então percebi que tentava encontrar respostas a perguntas aparentemente simples, porém impregnadas de desdobramentos complexos.
Chegando ao trabalho, me dediquei a tarefa de registrar as reflexões daquela manhã. Sei que as inquietações vão perdurar um bom tempo. Isso é bom, porque a ausência delas pode ser um sintoma de acomodação.  A proposta é  ampliar e enriquecer nossas reflexões, que devem se estender para além dessa em uma calçada.

Um comentário:

  1. Obrigada por me ajudar a olhar de modo diferente, algo que corro o risco de me acostumar: pessoas na rua. Adorei essa reflexão. Estou lendo novamente! Dulce.

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