Em um dia comum, pela manhã, caminhando em direção ao trabalho, me deparei com uma cena muito comum em nossa cidade, digo isso com tristeza. Em meio a pessoas ansiosas, atrasadas, irritadas, tranquilas e também sonolentas que aguardavam a chegada do ônibus, um menino dormia, alheio a todo e qualquer movimento.
Como não perceber, em sua cabeça raspada, tantas cicatrizes? Tentava disfarçar, olhava para outras direções, mas meus olhos procuravam aquelas cicatrizes. Lá estava ele: posição fetal, sem travesseiro, sem lençol, sem nada... Seu sono parecia inabalável, indiferente aos ruídos, buzinas e conversas ao redor.
Interiormente, listei algumas perguntas: Quantos anos tem esse menino? Será que algum dia morou com a família? O que causou tantas cicatrizes em seu corpo? Que histórias esse menino e essas cicatrizes me contariam? Essas perguntas ecoavam forte dentro de mim causando um turbilhão de sentimentos. Eu olhava tão fixamente para ele, que quando se mexeu receei tê-lo acordado com meus pensamentos.
Finalmente entrei no ônibus, mas meus pensamentos ficaram lá. A cena continuou viva em minha mente, então percebi que tentava encontrar respostas a perguntas aparentemente simples, porém impregnadas de desdobramentos complexos.
Chegando ao trabalho, me dediquei a tarefa de registrar as reflexões daquela manhã. Sei que as inquietações vão perdurar um bom tempo. Isso é bom, porque a ausência delas pode ser um sintoma de acomodação. A proposta é ampliar e enriquecer nossas reflexões, que devem se estender para além dessa em uma calçada.
Obrigada por me ajudar a olhar de modo diferente, algo que corro o risco de me acostumar: pessoas na rua. Adorei essa reflexão. Estou lendo novamente! Dulce.
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