Todos os momentos da
vida devem ser vivenciados ao lado de outras pessoas, mas há aqueles momentos
que exigem a companhia de amigos, familiares, de pessoas companheiras; pois a
existência humana pode revelar surpresas, desafios e ciladas. Esses momentos
demandam um caminhar solidário, ao invés de solitário. É aí que acontece a
descoberta da verdadeira amizade e do companheirismo, porque essas situações
são marcadas pelo cuidado e apoio mútuos que resultarão em fortalecimento e
restauração.
Foi essa a
experiência de Noemi, narrada no livro de Rute. O livro trata da história de
pessoas comuns, e de assuntos corriqueiros. Porém, essa história revela que
Deus está ativo, e interessa-se pelos assuntos que causam inquietações aos
homens.
É possível perceber que
o tema que permeia todo o livro de Rute é a amizade e a solidariedade,
demonstradas por Rute e Noemi em diferentes momentos da história. A companhia
de Rute, nos momentos de angústias e incertezas foi crucial e pôde proporcionar
a Noemi a força e a coragem necessárias para seguir em frente.
A narrativa bíblica é
um relato a respeito de uma família israelita que se dirigiu à terra de Moabe,
em época de fome, e ali passou maus dias. Pouco tempo depois, o marido de Noemi
morre, ficando a mulher, sozinha com os seus dois filhos que se casaram com
mulheres moabitas, uma chamada Orfa e a outra Rute. Mais tarde, morreram também
os dois filhos de Noemi. O quadro que tomou conta da sua vida era trágico e as
circunstâncias que a rodeavam eram terríveis. Assim, quando terminou o tempo da
fome, Noemi decidiu regressar à sua terra e aconselhou às suas noras, que
voltassem para casa de seus pais e para junto do seu povo. Mas Rute optou por
acompanhá-la, dizendo: “Irei para onde
fores e, onde habitares, habitarei. O teu povo é o meu povo, e o teu Deus o meu
Deus”, Rt. 1.16.
Seguindo os passos
solidários de Rute, aprendemos que há, pelo menos, dois elementos que são
essenciais para quem se arrisca a compartilhar a jornada com aqueles que
acertam e erram, ganham e perdem, amam e odeiam, lutam e desistem. É preciso
ter coragem e fé!
Coragem -
foi o que Rute demonstrou ter, ao decidir permanecer com Noemi. Ela surpreende,
pois poderia voltar para casa e tentar outro casamento, aliás, foi esse o
conselho de Noemi. No entanto, ela decide ficar , embora suas possibilidades de
recomeço fossem maiores em sua terra natal e não em companhia da sogra. O texto
diz: “... porém Rute se apegou a ela”,
Rt 1.14. Quando tudo cooperava para um afastamento, ela se apega e decide
seguir com ela passo a passo, fazendo as mesmas trilhas, disposta a que nada,
nem mesmo a morte, as separe.
É difícil encontrar
quem queira dividir lutas e problemas. É difícil encontrar pessoas que queiram
permanecer ao lado daquele que nada tem a oferecer. Porque para isso é preciso
identificar- se com as dores, instabilidades e dificuldades na certeza de que é
possível reverter a situação e recomeçar sempre. Não são poucas as vezes em que
amigos, parentes ou familiares preferem o distanciamento nos momentos em que a
presença de cada um deles se faz mais necessária.
Fé – Nos versículos 13,
20 e 21 do capítulo 1, encontramos nas palavras de Noemi, um tom de desalento e
dor, por sentir-se desamparada, inclusive por Deus nos momentos mais difíceis
que viveu. Ela atribui ao abandono do Todo Poderoso, a responsabilidade por sua
tragédia pessoal. Ela experimentou pouco a pouco a perda daqueles que lhe
garantiriam segurança e proteção, numa sociedade centrada exclusivamente na
figura do homem. Para aquela mulher não havia mais nada, nem esperança e nem fé.
Mesmo quando Noemi descreve Deus como um Ser alheio aos
problemas humanos, Rute afirma que Aquele seria também o seu Deus, ou seja,
nenhum daqueles trágicos acontecimentos seria capaz de impedir que ela
depositasse em Deus a sua fé. Rute apegou-se firmemente à sua sogra, e ao Deus
de sua sogra, e por isso experimentou as bênçãos desse Deus de uma maneira
extraordinária. Deus sempre cumpre seus propósitos, e abençoa aqueles que ousam
confiar em seu agir e sua providência, ainda que as evidências sejam contrárias.
Conclusão
A trajetória humana é composta por momentos bons e ruins
e, administrá-los é o grande desafio. Não há como sabermos quando seremos
surpreendidos pelos revezes da vida, então que se encontre em nós a
disponibilidade necessária para seguirmos sempre com coragem e fé. Ao final,
será possível perceber que podemos nos transformar em canal de bênçãos para
transmitir o amor e a misericórdia de Deus em nossa caminhada comunitária, mas
também solidária.
Essa história é sempre interessante.Você destaca um novo ponto para olhar. O que me chamou atenção foi que a Rute estava confiante no Deus da Noemi e esta, sentindo-se abandonada. As vezes sinto assim: preciso que alguém me ajude com minha fé e minha coragem, quando estas me faltam. Obrigada por você me ajudar. Dulce.
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