Outro dia, diante de uma cena
corriqueira, lembrei-me de uma frase que ouço ao longo de minha vida: “aquilo
foi a gota que fez o copo d’água transbordar”!
Esse ditado popular diz
respeito àquelas situações em que alguém, aparentemente tranquilo e pacífico, toma uma
atitude radical, demonstrando claramente sua insatisfação com situações mal
resolvidas ou recorrentes. E, quando isso acontece é comum o espanto e até indignação das partes envolvidas ou das pessoas próximas.
Essa figura, de um
copo que transborda, pode ser usada para ilustrar àquelas pessoas que
adotam o comportamento de evitar, adiar ou se negar a resolver pendências em
seus relacionamentos. Muitas vezes movidos pelo receio de desagradar, empurram
acontecimentos que os aborrecem para "debaixo do tapete", vão se
esquivando daqui e dali, na tentativa de evitar confrontos e embates, que
resultem em angústias, explosões de ira ou rupturas desnecessárias. É óbvio que uma
única gota faça um copo de água transbordar, no entanto a
constância do gotejar é que, sutilmente, preenche todos os espaços vazios, até que
não se comporte mais nada. Assim também acontece com determinados
relacionamentos. Chega-se a dimensões incompreensíveis, porque uma única gotinha caiu no
coração sufocado com a força de um maremoto, causando danos por vezes irreversíveis aos envolvidos.
Como isso é possível? Não há como responder sem que se busque
compreender aquilo que, ao longo do tempo, contribuiu para a evolução desse
processo que resulta nesse desfecho, onde um gesto, uma palavra, um olhar é
como fogo sobre a palha. E palha seca!
No outro extremo
desse comportamento, estão aqueles que transbordam apenas com uma única gota
d’água. Eles externam suas insatisfações e contrariedades sem o menor pudor,
sem a menor preocupação com o outro. Sem se preocupar com o efeito que suas
palavras irão causar. São aqueles que mesclam sinceridade e verdade com nuances
de crueldade. Em nome da verdade e da sinceridade, sentem-se no direito de
ferir, magoar e expor alguém. Verdades ditas, muitas vezes, não para ajudar, mas apenas para o
desabafo e o bem estar de quem as diz. Nenhum dos extremos contribui para relacionamentos saudáveis. Nem
sempre conseguiremos resolver questões sem causar dor, decepção, ira ou mágoa àqueles a quem amamos. Mas devemos prezar por uma comunicação clara, fundamentada na transparência e na verdade.
Uma gota d’água pode nos fazer transbordar, sim! Mas que seja um transbordar de verdade, transparência, compreensão, respeito e
afeto.
Esse texto "caiu como uma luva". Obrigada pela "gota d´água". Bjs no coração, Sarah!
ResponderExcluirMuito bom, Sarah.
ResponderExcluir