quarta-feira, 15 de abril de 2015

O vento que venta lá também venta cá



 Não bastasse a chuva, tinha de chover forte a ponto de alagar tudo. Não bastassem os ventos, tinham de ser ventos fortes o suficiente para estremecer as estruturas. É desse jeito que Jesus conta a parábola dos dois alicerces. Ensinando a multidão, Jesus fala sobre a sabedoria, a prudência, a estupidez e a tolice. Ele diz à multidão que aquele que ouve seus ensinamentos e vive de acordo com eles é sábio, (Mt 7.24-26 – NTLH). Jesus compara essa pessoa a um homem que, para construir uma casa de maneira segura, cava bem fundo e em terreno sólido. E, obviamente, aquele que não procede assim, é alguém sem juízo, tolo.

Todos sabemos como é trabalhoso construir. Pois tal empreendimento demanda tempo, esforço, investimento e requer muita paciência. É custoso e lento construir sobre bases seguras. A ansiedade por resultados imediatos pode comprometer o valor do processo e prejudicar a solidez do projeto.

No entanto, nesse texto há uma lição que pode facilmente passar despercebida, tamanha a sutileza do ensino. É que em ambas as casas, na do sábio e na do tolo, caíram as chuvas e sopraram os ventos. Ambos sofreram perdas e danos. Isso é um alerta de que construir sobre a Rocha não torna ninguém imune às intempéries da vida. Tais como os que vivem sob frágeis fundamentos experimentaremos também dias difíceis. Violentas tempestades, as mesmas chuvas, os mesmos ventos, as mesmas inundações, contudo, nesse momento, o que faz toda a diferença não é o acabamento primoroso da construção, o seu tamanho, sua localização ou qualquer outro fator externo. O que sustentará o arcabouço de qualquer construção metafórica ou concreta, será o investimento gasto na edificação do alicerce.

Falando de outra forma, o que Jesus nos assegurou é que conhecer e praticar os Seus ensinamentos, não nos imuniza das dores, decepções ou problemas inerentes à nossa existência humana, ainda que fiéis, sinceros e comprometidos. Todo o Seu ensinamento, nada tem a ver com imunidade, mas com força, coragem e confiança.

Então quais as benesses em construir arduamente sobre a Rocha se enfrento as mesmas tempestades e sofro os mesmos agravos daqueles que não o fazem? Talvez essas e outras perguntas nos assaltem, fragilizando nossa fé e debilitando nossas emoções. No entanto o que precisamos entender é que a proposta do Mestre tem alcances mais profundos e realistas. Jesus, em hipótese alguma, nos atrai com falsas promessas. O apóstolo Paulo nos ajuda a entender melhor ao escrever sua segunda carta à igreja de Corinto: “Muitas vezes ficamos aflitos, mas não somos derrotados. Algumas vezes ficamos em dúvida, mas nunca ficamos desesperados. Temos muitos inimigos, mas nunca nos falta um amigo. Às vezes somos gravemente feridos, mas não somos destruídos”, (2Co 4. 8-9).

A preciosidade das palavras de Jesus reside no fato de que Ele nos ajuda a compreender a transitoriedade da vida e a imutabilidade dos reveses, sem que se perca a segurança e a serenidade que invade a alma daqueles que conhecem e confiam nas bases que sustentam suas vidas.

Um comentário:

  1. Um texto que ao mesmo tempo que nos encoraja a "erguer" com cuidado nossos projetos, nos faz refletir sobre o quanto já fizemos coisas com fundamentos frágeis...um punhado de tempo perdido poderia ser salvo se nos atentássemos a esses ensinamentos! Excelente!

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