sexta-feira, 31 de outubro de 2014

CONVERSAS DE RUA


 FAÇA O BEM SEM OLHAR A QUEM


      Sabe aquele dia em que você precisa desesperadamente de que tudo o que planejou dê certo? 
     Você calcula, planeja e ainda assim se surpreende, se chateia e desaba quando os imprevistos surgem. Pois é, o "não previsto" tem o poder de desestabilizar, remexer, sacudir e por vezes, até fazer cair. Foi o que aconteceu comigo em um fatídico dia em que, pelo menos em tese, tudo estava friamente calculado para que eu obtivesse êxito em minha empreitada.  Até que... o banco rejeitou meu pedido por causa da documentação apresentada. E quando consegui corrigir corri para pegar o primeiro táxi. Até que... não consegui embarcar em nenhum dos taxis que passavam na hora do meu desespero para voltar em casa e completar a documentação. Até que... resolvido o problema do banco, precisei me descolocar para a zona sul da cidade e passar por inúmeros congestionamentos no trânsito, coisas de cidades grandes. Até que... ao chegar ao destino planejado, o número de pessoas aguardando atendimento superou o esperado. Até que... finalmente consegui cruzar a linha de chegada da longa fila e ser atendida pelo funcionário público. Até que... descobri não possuir todas as informações necessárias para o andamento do processo. Até que... desabei ali mesmo diante do funcionário. Entre documentos incorretos, taxistas apressados e informações imprecisas, todo o meu descontentamento e frustração desmoronaram naquele lugar. Até que sob novas orientações tentei reagir. Até que aprendi que é preciso remover os escombros e voltar ao plano inicial. E foi isso que eu fiz até que... ao sair da agência levei um tombo cinematográfico. Caí de cara no chão. Nesses momentos é impossível internalizar as palavras de Fernando Sabino e "fazer da queda um passo de dança". A gente quer sair correndo e desaparecer, no entanto levantar é preciso. Encarar a plateia é preciso. Seguir em frente é preciso. Se o constrangimento prevalecer a gente levanta, mas interrompe a caminhada. E ainda corre o risco de ficar prostrado, ferido e amargurado. 
     A partir daí, o "até que..." sai de cena e surge o "foi aí que...". Foi aí... que ao levantar dolorida e visivelmente constrangida me dei conta do já sabido, mas sempre esquecido: “de nada adianta chorar sobre o leite derramado”. Foi aí que... ao chegar ao ponto de ônibus conheci a maranhense Carlina de Jesus e iniciamos uma rápida conversa informal. Foi aí...que me dei conta de que na correria do dia, não havia almoçado. Carlinda, prontamente se ofereceu para irmos juntas a uma lanchonete e, embora eu insistisse em dizer não haver necessidade de que me pagasse o lanche, ela o pagou. E sem nada perguntar. Não perguntou meu nome, nem onde eu morava, aliás eu é que não me contive e fiz essas perguntas. Carlinda me levou para lanchar e quando eu disse que ela perderia o ônibus,  respondeu com a maior naturalidade: 
    - Eu pego o outro! 
Simples assim. Foi aí que... percebi que imprevistos ruins acontecem sim, mas imprevistos bons acontecem também. E partir deles novas oportunidades, possibilidades e amizades podem surgir. Apesar de toda descrença e desconfiança que paira sobre a humanidade ainda existem pessoas que fazem o bem sem olhar a quem.
     

  





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